Os temas já são discutidos a muito tempo e agora esperamos que ações mais rígidas sejam praticadas.
Evento abaixo foi realizado em Novembro de 2012
Especialistas fazem alerta sobre riscos de contaminação coletiva em prédios, hospitais e residências: ar-condicionado merece atenção
Solange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp
Discutir e divulgar os principais aspectos que afetam as edificações de qualquer natureza, dimensão e uso e a sua relação com a qualidade de vida do homem. Este foi o objetivo do seminário sobre qualidade do ambiente interior, realizado nesta terça-feira (13/11) pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em parceria com o Sindicato da Indústria de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar no Estado de São Paulo (Sindratar).
Há perigos ocultos quando existem falhas no tratamento do ar. O médico Szymon Gartenkraut, com especialização em medicina do trabalho, lembrou dos prédios doentes. Em avaliação-piloto iniciada há cinco anos, com os 10 maiores shoppings centers de São Paulo, foi possível constatar que nenhum deles obedecia aos requisitos necessários, e dois tentaram se enquadrar às normas.
Hoje, após avaliação dos 25 de quase 100 shoppings existentes, pode-se dizer que nenhum deles é adequado no quesito da qualidade do ar do meio ambiente interior. Há mais preocupação com o conforto térmico e menos com a manutenção e a higiene.
Gartenkraut, que atua na vistoria de grandes instalações de ar-condicionado em edificações de uso coletivo em demandas da Prefeitura de São Paulo e do Ministério Público do Trabalho, apontou os parâmetros de qualidade. Um deles diz respeito à troca periódico de filtros, de tratamento do biofilme da condensação, onde se encontram os fungos.
A falta de trato eleva o risco de contaminação coletiva. Outro grave risco é a ausência de medidas de emergência e, em muitos projetos, o ar passar por uma recirculação e não pela renovação. O que ocorre é que geralmente os prédios são construídos e, depois, monta-se o sistema de ar-condicionado, com inadequações, conforme apontou o especialista.
Há o perigo de micropartículas se alojarem de modo permanente nos alvéolos. Entre os riscos biológicos, doenças como varicela, sarampo, rubéola, meningite e febres hemorrágicas. Em um ano, há o registro de 4 milhões de casos na população mundial. No Brasil, internam-se aproximadamente 2 milhões de pessoas. Os óbitos provocados por contaminação aérea representam 33 mil casos/ano e ocupam o 4º posto no ranking. Há, também, o registro de 6 mil casos de tuberculose, em média, em São Paulo.
Bactérias resistentes
O especialista alertou a incidência de uma bactéria resistente, a legionella, que não se contabiliza no país, mas com 25 mil casos/ano registrados nos Estados Unidos. Ela está presente em aparelhos de ar-condicionado, chuveiros, aquecedores de água, fontes ornamentais, caixas de água, banheiras de hidromassagem, climatizadores e, inclusive, na lavagem de automóveis.
Além de provocar sintomas similares à pneumonia, o que confunde o diagnóstico, alegionella não responde a antibióticos e pode levar a óbito em um prazo curto de 24-48 horas. Outra bactéria, a melioidosis, presente no ar e solo da Índia e da Austrália, já tem o registro de três casos no Ceará e é resistente até à penicilina.
Gartenkraut tocou em outro aspecto. Há parâmetros estabelecidos para a concentração de CO2. Altos índices podem levar a dores de cabeça e problemas circulatórios, incluindo acidente vascular.
Ambiente hospitalar
Há pontos importantes quando se trata do ambiente hospitalar: limpeza, desinfecção e esterilização. O alerta partiu de Lúcio Flávio de Magalhães Brito, engenheiro especialista em segurança do trabalho e em hospitais. Um grave problema é a reforma, geralmente constante em prédios, que espalha as colônias, ou a alta concentração de pessoas, o que aumenta os riscos.
Wili Colozza Hoffmann, engenheiro mecânico da Escola Politécnica/USP, disse que existem normas técnicas para o controle da qualidade do ar interior, mas é preciso lembrar que, mesmo em uma sala desabitada, há a geração de partículas e gases por conta dos móveis e utensílios, cujos níveis também devem ser acompanhados. Os participantes do encontro argumentaram que uma norma não é lei, mas um parâmetro que precisa ser seguido.
O ar mata tão silenciosamente como a diabetes. O alerta de Sidney de Oliveira, representante da OAB/SP, reforça a importância que se deve dar ao assunto: “O homem vive hoje 90% do seu tempo em lugares fechados, o que nos obriga a conviver com uma climatização mecânica, o que pode agravar quadros de infecções alérgicas e doenças pré-existentes. O ar interior pode ser mais poluído do que o de fora”, sintetiza.
Se por um lado os aspectos técnicos são solucionáveis, disse o diretor de Meio Ambiente da Fiesp, Paulo Dallari, a especulação imobiliária, por exemplo, envolve impactos sociais se não houver um projeto adequado de circulação de ar.
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