Qual é a efetividade de pintar todos os telhados de branco na capital paulista para reduzir o aquecimento global e as ilhas de calor? Especialistas tentarão responder a essa pergunta amanhã, em um debate na Câmara Municipal sobre o Projeto de Lei do Telhado Branco, de autoria do vereador Antonio Goulart (PMDB).
O texto, que obriga os paulistanos a pintarem os telhados de branco em um prazo de 180 dias, recebeu parecer favorável das comissões técnicas e foi aprovado em primeira votação em novembro do ano passado.
Mas o próprio vereador Goulart admite que a proposta está defasada e, por isso, chamou especialistas para debater o assunto e melhorar o texto antes de colocá-lo novamente em discussão. O projeto foi inspirado na campanha One Degree Less (Um Grau a Menos), da Green Building Council Brasil (GBC Brasil).
No ano passado, o movimento contou com a participação de várias personalidades, que concordaram em pintar a mão de branco para uma foto.
De acordo com a campanha da GBC Brasil, a compensação gerada pelo esfriamento das superfícies urbanas possibilitaria um atraso importante nos efeitos das mudanças climáticas, período em que poderiam ser pensadas e desenvolvidas outras medidas para combater o aquecimento global.
Para Goulart, uma das alterações necessárias ao projeto é trocar o termo "telhados brancos" por "telhados frios", o que dá mais opções aos moradores. "Estou totalmente aberto ao diálogo, quero colher mais dados. Meu objetivo é melhorar a qualidade de vida da população."
Mas, para o vereador, está claro o benefício de pintar as superfícies de branco. "Se colocamos um piso perto da piscina que não seja branco, não conseguimos pisar nele sem chinelo."
Apesar de sua campanha ter servido de inspiração para a proposta, a GBC Brasil afirma não ter oferecido suporte prévio ao vereador. "Não fomos contactados", conta Felipe Faria, gerente de relações institucionais e governamentais da GBC Brasil.
Para ele, há várias alternativas para evitar o aquecimento prejudicial nas cidades: usar telhados verdes (com grama plantada, por exemplo), telhas metálicas claras (que tenham potencial de reflexão) e tintas não brancas com pigmentações especiais.
"A campanha focou no telhado branco porque era a linguagem mais simples e a solução mais rápida. Mas não tem necessariamente um resultado duradouro. Nunca imaginamos que a campanha influenciaria tão rapidamente as políticas públicas", diz o gerente do GBC.
O site da campanha One Degree Less na internet (www.onedegreeless.org) recebe o patrocínio da empresa de tintas Sherwin Willians e da Dow, que deu suporte tecnológico para a Hidronorth produzir um revestimento chamado de Ecco Telhado Branco.
Para Faria, a entidade faz lobby, mas do bem. "Fazemos lobby das soluções que podem tornar as construções mais sustentáveis", ressalta.
Obrigação. A GBC Brasil defende que o governo dê incentivos a quem aderir aos telhados frios. Com relação à obrigatoriedade, a entidade diz que poderia ser pensada para novas construções e locais com grande área de telhado, como galpões, supermercados e shoppings.
No mês passado, foi realizado no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP um evento com palestrantes contrários à lei dos telhados brancos. Um dos expositores foi Ricardo Felício, professor de climatologia do departamento de Geografia da USP.
Para o meteorologista, a população perde em diversos aspectos com a aprovação do projeto. "Na escala local, não resolverá nada do conforto interno das habitações e vai gerar um gasto desnecessário de uso de água, recursos financeiros para pintura, recursos humanos para atividades de manutenção e aplicação. Só há ônus para a sociedade e nenhum ganho ambiental de fato."
"Curiosamente, o único ganho será das empresas e ONGs engajadas na proposta e da Prefeitura, que poderá angariar fundos exorbitantes em multas", completa ele.
Felício avalia que, após o debate, o projeto será abandonado. "Acredito que o autor e os seus colegas desistirão de levar o projeto adiante quando forem colocados todos os argumentos que demonstram que o projeto não tem base científica, não trará benefícios para o ambiente nem para o planeta e seu valor real, para a sociedade paulistana, é um completo equívoco", diz.
Custo. Goulart discorda do argumento de que o custo é um problema. "Esse argumento é frágil. Todo mundo fala que os alimentos orgânicos são caros, mas é porque o consumo é pequeno".
Fonte - O Estado de São Paulo
10 de out. de 2011
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