1 de fev. de 2012

Para saber mais sobre a LEGIONELLA

Verdades e mentiras sobre a Legionella

É correto relacioná-la ao ar condicionado? Os números de casos são realmente alarmantes? Como se prevenir?
A Doença do Legionário é uma forma de infecção do pulmão e a sua causa, a Legionella, ocorre sempre que é utilizada água. Muitos a associam à contaminação do ar de interiores, principalmente em edifícios, onde é bastante presente o uso do ar condicionado. Mas isso é correto? O que precisamos saber sobre esta bactéria?

Quem responde essas e outras pontuações é o Eng. Marcos d´Avila Bensoussan, especialista na área de Controle e Monitoramento da Legionella, que trabalhou por muitos anos em tratamento de águas e qualidade do ar de interiores, ajudando a introduzir o conceito no Brasil e América Latina.

Se estamos falando de verdade e mentira sobre a Legionella, como você começaria nossa entrevista?
A Legionella sempre existiu; o que posso colocar como mentira é a confusão que algumas pessoas ainda fazem sobre ela.

Qual seria a maior confusão?
A maior delas é que a Legionella não existe no Brasil, mas somente na Europa e Estados Unidos. A verdade é que a Legionella vive na água, ou seja, bem perto de todos nós.

O que os nossos leitores precisam saber de fato?
Poderíamos ficar aqui várias horas falando sobre a Legionella, mas resumidamente ela foi descoberta após uma grave mortalidade na Filadélfia, em um encontro dos Legionários, daí o nome Legionella. Ela provoca no ser humano alguns problemas sérios, podemos ter a febre Pontiac (como um forte resfriado), pneumonia leve e até a pneumonia gravíssima que pode levar à morte.

Como é o seu contágio?
A Legionella não passa de pessoa a pessoa. Se adquire pela água pulverizada (pequenas gotículas) que através da respiração vai para o nosso aparelho respiratório, provocando as doenças já citadas. Como nós, humanos, usamos a água de várias maneiras, os locais de maior probabilidade de haver contaminação são: Torres de Resfriamento, chuveiros, fontes decorativas, Spas, pulverização de água em locais públicos, consultórios odontológicos (através do motor que injeta água pulverizada), sistemas de nebulização de água e tantos outros processos que pulverizem a água e que possamos respirar as suas gotículas. Entretanto, o que ocorre é que existe a possibilidade de certeza de haver ou não problemas. O que não podemos é entrar em pânico.

Como mensurar o risco?
Em nível mundial, os casos graves de óbito provocados pela Legionella não são um número pequeno, tanto que a National Geografic a considerou como uma das epidemias mais graves. No Brasil não existe um acompanhamento oficial, mas os números são assustadores (foi tema de um trabalho que apresentei com alguns colegas em Chicago, em 2007).

Como é o processo utilizado nos outros países?
Realizamos uma análise de risco no local (somente com pessoas capacitadas), para definir o seu nível. Este é o procedimento que todos deveriam usar (edifícios, indústria, shopping centers, hospitais, hotéis, todos que de uma maneira ou de outra possuem fonte que tenha pulverização de água). Outro ponto importante é que a Legionella, estando na partícula de água, pode ser arrastada por vários quilômetros e contaminar pessoas bem distantes do local infectado (o caso mais impressionante aconteceu na França em uma refinaria de petróleo, onde pessoas a quase 10 quilômetros foram contaminadas). Outro ponto importante é que não existe lei para tratar a água de um sistema de resfriamento, mas todos tratam e por quê? Porque se não tratar os equipamentos vão ter problemas e se perde dinheiro. No caso da Legionella podemos perder vidas e deixar pessoas doentes. Será que precisamos de leis ou de consciência?


“A Legionella não passa de pessoa a pessoa. Se adquire pela água pulverizada (pequenas gotículas)..."


Ultimamente, no Brasil, se fala muito da Legionella e o ar condicionado, sendo que todos culpam como sendo ele o responsável...
Isso é polêmico, pois todos vinculam a Legionella ao ar condicionado. Inclusive a história da Qualidade do Ar de Interiores apareceu por um equívoco técnico na época. Não que o que temos no Brasil (RE09) não seja importante, mas na época em que o então Sr. Ministro Cesar Motta faleceu, falaram que ele teve Legionella provocada pelo ar condicionado do seu gabinete em Brasília. Ele pode ter falecido pela Legionella, entretanto, este não foi o único fator responsável pela sua morte (foi mais um fator, porém, não foi o único), mas não foi o ar condicionado que gerou a Legionella. Com esta confusão, foi que o Ministério da Saúde lançou as portarias da Qualidade do Ar de Interiores, pois pensaram que o ar era o culpado (inclusive nas resoluções não se fala quase nada sobre Legionella). O ar condicionado pode, eu disse PODE ser o condutor das partículas de água contaminadas, e não o gerador. Se a tomada de ar externo estiver próxima a uma torre de resfriamento, pode arrastar as partículas para o local onde o sistema de ar condicionado esteja operando. No caso de Filadélfia, ocorreu exatamente isso, muitos se contaminaram dentro dos seus quartos (pelos dutos) e muitos na rua, respirando as partículas de água que vinham da torre de resfriamento no topo do edifício (hotel). O que sim, temos que fazer, é analisar o risco de contaminação e a água.

Mas o fator de uma lei existir não reforçaria a preocupação?
Sabe, temos hoje a Portaria 3523 e a RE09 do Ministério da Saúde/Anvisa. Isso ao olhar do mundo é fantástico: um país como o nosso preocupado com a saúde e bem-estar das pessoas que estão utilizando locais climatizados, ou seja, querem reduzir os riscos de enfermidades e outros problemas. Isso é muito bom, mas como todos deveriam fazer, começa o famoso jeitinho de como burlar este procedimento tão importante. A questão é que muitas empresas fazem PMOC e as análises somente para cumprir tabela, usam pessoas desqualificadas, laboratórios que não fazem a análise corretamente, ou seja, estão enganando a si próprios.

Que recado daria aos responsáveis pelos processos que mencionou?
Precisamos reduzir os riscos, fazer as análises necessárias para a prevenção. Utilizar somente pessoas capacitadas, pois qualquer erro pode ser pior que não fazer. Hoje na Europa existe lei rígida sobre o tema, nos Estados Unidos existem procedimentos. Havendo pessoas doentes e se houver uma investigação, a fonte que provocou poderá ser responsabilizada, independente de lei ou não. Só um comentário final: hoje a “gripe suína” (H1N1) está na mídia 24 horas por dia. Correto. Todos nós devemos ser informados para evitar mais mortes, etc. Mas eu pergunto: Quem sabe da Legionella e dos seus riscos? Quem sabe dos riscos que corremos? Quem está fazendo algo? Depende da consciência dos Gestores de Segurança, RH, Facilities, Engenharia e outros trabalhar para a prevenção, a saúde e o conforto das pessoas.

Publicado na Revista INFRA

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