27 de abr. de 2012

Qualidade do Ar Interior - Dr Gustavo

Um excelente artigo do nosso amigo Dr Gustavo, vale a pena ler.


Qualidade do Ar Interior
Renovação do ar torna ambiente saudável

Gustavo Graundenz
(crédito: NT Editorial)
Gustavo Graundenz

A qualidade do ar dos ambientes interiores (QAAI) recebeu uma importância crescente nos últimos 30 anos, tanto no Brasil, quanto fora. Inicialmente, a QAAI era exclusivamente ligada ao conforto dos usuários. Com o passar do tempo, as evidências mostraram um papel bem mais importante. Várias relações diretas com a saúde e qualidade de vida foram apontadas e expandiram o seu escopo. Há ainda a necessidade de redução no consumo de energia das edificações sem diminuir a renovação do ar. A participação da QAAI funcionou como fator determinante de saúde em ambientes críticos como hospitais, casas de reabilitação, casas de repouso, creches, etc...
A legionella é uma bactéria que pode causar uma pneumonia grave se for inalada sob forma de gotículas de água contaminada. Ela é uma causa cada vez mais diagnosticada de pneumonia, aparentemente não porque aumentam o número de casos, mas sim a possibilidade de diagnóstico. Ela apresenta um paradigma, pois é uma bactéria muito encontrada na natureza (lagos, rios, solo, mar, água potável), entretanto é difícil de erradicar com os métodos tradicionais e tende a voltar rápido aos patamares iniciais. A Legionella é um tema ingrato, pois mesmo medidas de combate a bactéria muito agressivas ao meio ambiente podem ter resultados frustrantes a médio e longo prazo. Nos sistemas de climatização as instalações de torres de resfriamento e todas as fontes de aerosolização da água devem inibir o máximo possível a corrosão do ferro, a contaminação por algas e outros microorganismos que favorecem o crescimento da bactéria e a manutenção periódica da temperatura das fontes de água quente acima de 60 graus Celsius. Algumas empresas fazem uma combinação de análise de risco para proliferação da bactéria em conjunto com amostras de água para estratificar a necessidade de medidas preventivas ou de remediação. A não adequação implica risco elevado para surtos de legionelose a partir de um foco de exposição, como vários relatados no mundo, em especial no Estado Unidos, na Filadelfia em 1976, onde 221 pessoas foram infectadas e 34 morreram, devido a torre de resfriamento do Hotel Stratfordestar contaminada pela bactéria.
Atualmente desconheço qualquer legislação que leve em consideração essa situação. Observo entretanto que corporações multinacionais fazem análise de risco periódica para Legionella.
As consequências acarretadas pela falta de manutenção e renovação do ar em ambientes interiores são absenteísmo, questões judiciais de insalubridade ocupacional, aumento de doenças respiratórias infecciosas, em especial as gripes e resfriados, pois todos acabam respirando o mesmo ar várias vezes. As doenças alérgicas como a rinite alérgica e bronquite podem ter grandes aumentos nessas situações. Isso por sua vez traz custos de visitas médicas, medicamentos, queda na satisfação e produtividade relacionados ao trabalho. Ainda não é do interesse de grande parte do mercado de AVAC a adequação de normas no sentido do combate a Legionella em ambientes interiores, pois isso não agrega valor, somente custos adicionais. Somente pequenos nichos de empresas com preocupação social verdadeira pensam em abordar essa questão de forma mais sistemática, para a segurança de seu usuário.
A RE 09 é nossa primeira norma mais específica sobre qualidade de ambientes interiores. Ela traz parâmetros de umidade e temperatura de interiores, velocidade do ar, quantidade de material particulado aceitável, um indicar de renovação do ar e um número de fungos aceitáveis no ar. Ela serviu para ajudar a chamar a atenção dos locais climatizados para esse importante aspecto da saúde pública urbana. Esta na hora de renovar a legislação para poder torná-la mais eficaz.Também a NBR 16401 sobre sistemas de ar condicionado e qualidade do ar propõe medidas como: Taxas de renovação dimensionadas para a densidade ocupacional, tamanho do ambiente e atividade exercida no local; Níveis de filtragem do ar mais exigentes; Exigência de acesso facilitado a todas as partes dos sistemas de climatização para realização da manutenção e higiene adequadas; Ferramenta epidemiológica para acessar a percepção da qualidade do ar pelos usuários.
O futuro dirá como essas necessidades irão afetar o mercado. Diante de novos desafios, as pessoas geralmente dividem-se quanto às suas visões. Para os gestores cortadores de gastos, isso com certeza irá gerar dor de cabeça para equacionar as novas necessidades dentro de seu orçamento reduzido. Para os empreendedores, poderá representar uma oportunidade. Aqueles que perceberem as melhorias da QAAI como um investimento na direção da sustentabilidade podem agregar valor em seus imóveis e suas operações.

O conceito de sustentabilidade gira em torno de três objetivos: pessoas, planeta e benefícios. A QAAI é um ponto fundamental para todos os sistemas de certificação de edificações sustentáveis, sendo no sistema de certificação mais desenvolvido no Brasil – o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) um pré-requisito visando à manutenção da saúde e qualidade de vida dos usuários. Com a diminuição do impacto no ambiente através de consultoria e ações para certificação de sustentabilidade pode-se atingir o objetivo de atenuar o impacto das edificações sobre o planeta.

O terceiro e último ponto: os benefícios vêm tanto de forma direta, pelo aumento de valor agregado do imóvel (podendo reverter em valor de venda e locação), como pela diminuição dos valores de condomínio, e mesmo pela valorização de produtos e serviços produzidos em locais sustentáveis. Os benefícios indiretos são a diminuição das faltas ao trabalho por motivos de saúde, melhor produtividade e qualidade de vida dos usuários.

Gustavo Graudenz - Médico, PhD do Departamento de Ciências Médicas Gestão Ambiental e Sustentabilidade- PMDA Universidade Nove de Julho

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